Nos últimos anos, o aquecimento do mercado de comodities atrelado a quebras de safra devido a eventos climáticos, fez com que os níveis de preços de grãos disparassem mundialmente. No Brasil, juntamente com a evolução produtiva e a desvalorização cambial, a disparada gerou uma robusta demanda por terras agrícolas, levando os valores das demais áreas rurais à mesma tendência. Este movimento está gerando dúvidas quanto à permanência do ciclo de alta por parte dos produtores, investidores e outros atuantes do mercado. Todavia, projeções de crescimento populacional e aumento de renda per capita, a escassez de oferta de áreas agriculturáveis, análises comparativas de preços entre regiões e países, e projeções da participação brasileira na produção e exportação de alimentos, trazem a expectativa de permanência dessa propensão altista nos preços.
De acordo com projeções das Nações Unidas, a população mundial deve chegar a 8,5 bilhões de pessoas em 2030 e 9,7 bilhões em 2050. Simultaneamente a esse comportamento, vem sendo observado um aumento contínuo da renda per capita, principalmente em países emergentes, o que correlaciona a uma maior demanda substancial de produtos agrícolas para suprir o compromisso de segurança alimentar no planeta. Os fatos de as projeções de demanda por essas comodities estarem em comportamento crescente e de que os imóveis rurais são precificados com base na matéria prima em atividade, corrobora para um cenário de sustentação do movimento de apreciação do mercado de terras nos próximos anos.
Em consequência do incremento do consumo mundial por alimentos, será essencial a ampliação de áreas de cultivo e a escassez de terras se tornará cada vez maior. De acordo com Ivo Marcon Brum*, diretor da SLC Agrícola, em entrevista para o Valor Econômico, será exigido um aumento de cerca de 60 milhões de hectares em áreas de plantio para abastecer a futura demanda alimentar. A grande problemática é que somente o Brasil e poucos lugares na África contam com essa disponibilidade de áreas, o que pode gerar uma grande procura por terras agrícolas nesses lugares, uma vez que terão de suprir os demais países com regiões altamente consumidoras.
Além disso, atualmente os preços de terras praticados no Brasil são consideravelmente menores em comparação aos dos EUA, quando comparado a sua atividade principal. De acordo com Ricardo Faria*: “Há terras no Brasil que estão pela metade do preço dos EUA, embora tenham o dobro da capacidade de utilização e um clima que possibilita duas safras e isso deve caminhar para um equilíbrio, com um hectare em Sapezal [MT] valendo tanto quanto em Illinois, e a terra do Baixa Grande do Ribeiro [PI] equivalendo ao hectare no Vale do Mississipi”. Como consequência podemos ver um aumento na concorrência para aquisição de terras no Brasil advinda de capital estrangeiro.
Por fim, o USDA projeta um crescimento das importações mundiais de soja de 26,7% entre 2021/22 e 2030/31, com a China respondendo por cerca de 79% do aumento projetado, e o Brasil atendendo cerca de 70% do aumento da demanda. Neste mesmo período, o USDA estima uma queda da participação americana no total de exportações de 34,2% para 29,5%, que será em boa parte tomado pelo Brasil, sendo esperado um crescimento de 36% nas exportações brasileiras no período e um aumento anual de 2,5% na área produtiva para a próxima década.
Levando-se em consideração a todos os aspectos apresentados, indubitavelmente o setor imobiliário rural é limitado fisicamente e apresenta procura latente para solucionar desafios mundiais. Ao restringir os pontos tratados sobre o mercado de terras brasileiro, identifica-se que o setor segue proporcionando resultados robustos para a economia brasileira e suas projeções de preços apontam um duradouro potencial de valorização. A procura por terras tende a ser incessante mesmo com a significativa valorização observada nos anos anteriores.
*https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2022/09/30/precos-das-terras-agricolas-devem-continuar-em-alta.ghtml