Keynes uma vez disse que “no longo prazo estaremos todos mortos”. À primeira vista parece razoável, afinal há um limite no qual podemos colher pessoalmente os benefícios dos nossos investimentos. Porém, isso não quer dizer que os benefícios produzidos por estes investimentos deixem de existir. Por exemplo, as decisões tomadas hoje por um gestor podem causar benefícios sociais, econômicos e financeiros que perduram períodos que podem ser mais longos que a sua própria carreira. Investimentos de longo prazo devem ser vistos desta forma.
Antes de mais nada, é importante dissociar o investidor do investimento, e então destacar os investidores qualificados e institucionais.
O investidor qualificado, independente do tomador de decisão e diferentemente do cidadão comum, tem maior capacidade e mais meios disponíveis para diversificação. Isso permite que ele escolha investimentos que combinem ganhos de capital com renda que exigem um comprometimento de capital maior, mas mitigam em elevada proporção os riscos de volatilidade do curto prazo e possibilitam um fluxo financeiro constante ou ganhos substanciais. Pode “jogar seguro” e “jogar arriscado”, olhando não para os investimentos específicos, mas à composição de sua carteira.
O investidor institucional, por sua vez, em muitos casos, como podemos observar no Brasil recente, ainda pode ser salvo pelo governo, por conta do seu papel social ou seu tamanho na economia como um todo. Não só em muitos lugares é proibido por regulamentação a fazer investimentos de curto prazo, quanto é perfeitamente capaz de investir no longo prazo lidando com a volatilidade do período por conta do montante do capital do qual dispõe e das seguranças que o seu tamanho lhe proporciona.
Seguimos então aos benefícios do longo prazo que se abrem a estes investidores.
O primeiro, é econômico e social: a estabilidade. Os investimentos de longo prazo ancoram expectativas e começam a construir um futuro através do compromisso dos investidores com uma realidade. Isso permite que variáveis do governo ou dos pequenos investidores de curto prazo enxerguem o cenário melhor, dando maior previsibilidade para toda a economia. Também, isso lhes confere grande responsabilidade de ajudar a clarear a perspectiva do mercado como um todo. Como este mercado lhe inclui, a previsibilidade que ele oferece aos demais também se aplica a ele próprio.
O segundo benefício é social e ambiental. Isso porque investir a longo prazo requer visão e disciplina. Para mitigar o risco dessas variáveis, a tese tem de ser clara e gerar externalidades positivas que a reforcem. A pergunta como o seu investimento afetará o ambiente macro, tanto econômico, quanto social e ambiental passa a ser uma variável endógena essencial para sua tomada de decisões. Para reduzir seu risco, portanto, faz sentido investir em projetos que gerem um ciclo virtuoso e melhorem os ambientes nos quais seu investimento está inserido. Se um investimento ajudar a fortalecer o mercado, fomentar outros investimentos ou, ao menos, não prejudicar as premissas que ele mesmo estabeleceu, gera-se por si só um reforço endógeno.
Essas visões são fáceis de serem compreendidas em teses de terras agrícolas, por exemplo, onde o retorno futuro é consequência da capacidade de produção e sustentação do mercado consumidor de alimentos ou dos efeitos climáticos produzidos por más práticas. Também em investimentos imobiliários, onde é necessário prever uma capacidade de renda populacional que permita que as pessoas possam pagar seus aluguéis sem imprevistos. Com isso, para investidores qualificados e institucionais o longo prazo torna-se uma estratégia particularmente importante para garantir o longo prazo para ele próprio e para aqueles que o cercam ou o compõe.
