Pandemia e inflação, os motivos da escalada recente de juros

Muitos investidores ficam tentados em buscar analistas e relatórios que cravam a magnitude dos próximos aumentos das taxas de juros, taxas terminais e datas. Nesse artigo, iremos para um caminho diferente e talvez mais esclarecedor, iremos passar um panorama dos acontecimentos dos últimos dois anos que culminaram na mudança da política monetária por parte do FED.

Abaixo, um gráfico que apresenta os indicadores de desemprego, inflação e taxa de juros que iremos usar para nos ajudar a visualizar esses momentos:

Pré pandemia

Após a crise financeira de 2007-2008, o FED vinha praticando taxas de juros em patamares mais baixos, aquecendo o mercado, com o intuito de diminuir o desemprego.
A partir de 2016, nota-se um movimento de elevação de taxa de juros, atingindo assim, seu ponto de equilíbrio (entre 3% e 5%), para antecipar o movimento do mercado de trabalho e evitar a aceleração da inflação na economia norte americana.

Pandemia

Com o início da pandemia, o FED é forçado a ajustar sua política:

  • Injeção de liquidez nos mercados na forma de planos de manutenção de renda e emprego e redução da taxa de juro;
  • Mudanças de hábitos de consumo devido aos as restrições de circulação;
  • Quebra das cadeias produtivas (elevação do CPI).

Esses três fatores contribuíram para o atual cenário e atual política aplicada pelo FED.

O salto na taxa de desemprego na economia foi contrabalanceado com programas de transferência de renda. Também se nota uma rápida recuperação no mercado de trabalho após os primeiros meses de restrição de circulação. Esse movimento abrupto no mercado de trabalho pode ser explicado pela flexibilidade da legislação trabalhista norte americana (aumento rápido do desemprego) e, em um segundo momento, pela constatação de que o período de restrição de circulação não seria de poucas semanas e que, as organizações precisaram continuar com suas atividades e se adaptar a essa nova realidade.

Todos esses fatores contribuíram para o que os economistas descrevem como mercado de trabalho apertado (baixo desemprego e alta demanda por trabalhadores), que contribui para o aumento real de salários, gerando mais pressão inflacionária.

Cenário Atual

O avanço da vacinação e diminuição das restrições de circulação, impulsiona a retomada do consumo (demanda) que ocorre em uma velocidade mais acelerada do que a normalização nas cadeias de produção (oferta), esse desequilíbrio entre oferta e demanda leva ao aumento de preços (inflação).

Com o conflito entre Rússia e a Ucrânia, e dado o início da guerra no continente europeu, vemos se agravar ainda mais o desequilíbrio entre oferta e demanda, principalmente, nos mercados de energia (petróleo e gás natural), fertilizantes (nitrogênio, potássio e fosforo), comodities metálicas (alumínio e níquel) e de grãos.

O catalizador para as mudanças que estamos vivendo nesse momento, um cenário de fortalecimento do dólar em relação à outras moedas e mudança de discurso de outros Bancos Centrais ao redor do mundo, foi a mudança de postura do FED, que passou de dovish, marcada pela redução de juros e expansão da oferta de moeda, para hawkish, caracterizada pela elevação de juros e contração monetária.

Essa mudança na postura do FED marca reavaliação de prioridade dentro do duplo mandato exercido por ele, estabilidade dos preços e pleno emprego. Existe um tradeoff entre os dois, se no período de pandemia a prioridade era a manutenção do emprego, no cenário atual, com a deterioração dos indicadores de inflação, a prioridade do FED se tornou a busca pela estabilidade de preços. 

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